Má conduta científica triplica em 16 anos nos EUARICARDO MIOTO
Há cada vez mais sujeira por baixo dos jalecos brancos: nunca antes os Estados Unidos, grande potência científica mundial e pioneiro na tentativa de coibir fraudes nos laboratórios, teve tantos problemas com desvios de conduta de pesquisadores
Casos como o de Marc Hauser, biólogo afastado de Harvard há uma semana acusado de distorcer dados em uma pesquisa sobre aprendizado em pequenos macacos, quase triplicaram nos últimos 16 anos.
Em 1993, quando o governo federal dos EUA criou uma agência para o assunto, a ORI (Agência para a Integridade em Pesquisa, na sigla em inglês), foram relatadas 86 denúncias de desvios.
Em 2009, foram 217, número recorde. O país gastou cerca de US$ 110 milhões investigando esses casos.
Historicamente, um terço das investigações resulta em punição --em geral, afastamento de cargos e verbas públicas.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
"Humanos são humanos, alguns vão se deixar seduzir e usar certos atalhos em busca do sucesso, por mais antiéticos que eles sejam", disse à Folha. "A esmagadora maioria dos cientistas são éticos. Infelizmente, trapaças de poucos mancham o trabalho duro do resto de nós".
Humanos sempre foram humanos, claro, e fraudes existem desde sempre.
O homem de Piltdown é citado com frequência como a maior mentira da história da ciência, e o caso é de 1908.
Na época, foram apresentados fósseis de um suposto elo perdido entre humanos e primatas. Só em 1953 a fraude foi comprovada: tratava-se, na verdade, de uma mistura deliberada de ossos humanos e de orangotango.
Os números americanos, porém, mostram a má conduta ganhando espaço.
Para Sílvio Salinas, 67, físico da USP, a tentação é maior entre as gerações mais novas. "Hoje em dia, há uma enorme pressão, uma grande disputa por posições", diz. "Mas os bárbaros não tomaram conta da ciência ainda.